Artigo - Censo Agropecuário mostra maior presença de mulheres à frente dos negócios
O Censo Agropecuário, publicado recentemente pelo IBGE e disponível no site deste órgão (https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/resultados-censo-agro-2017.html), trouxe inúmeros dados importantes para o Agronegócio, como o aumento da escolaridade entre os profissionais do setor – já são 77% os alfabetizados no campo – , as técnicas de cultivo utilizadas e o uso de agrotóxicos e o tipo de financiamento dos negócios, que ainda é pequeno, se comparado ao potencial do mercado: segundo o censo, quase 85% dos produtores rurais não conseguem financiamento público ou privado para o desenvolvimento de seus negócios.
Destaco aqui, entretanto, um número que me chamou muito a atenção: as mulheres estão mais presentes nos cargos diretivos dos estabelecimentos agropecuários. Segundo dados preliminares do Censo, 30% dos trabalhadores do campo são mulheres e 20% dos cargos de chefes de fazenda são ocupados por elas, o que demonstra o início da quebra de uma tradição secular do patriarcado no campo.
As mulheres sempre se fizeram presentes no Agronegócio. E elas fazem muito bem à gestão do setor, sejam individualmente ou em propriedades familiares. Outro dado do Censo apontou que há, também, um número bastante expressivo de mulheres que administram os estabelecimentos agropecuários em parceria com seus companheiros e, se somadas àqueles 20% que são chefes de fazendas, elas representam quase 35% de empreendedoras do campo, ou 1.762.416 mulheres chefiando a produção agropecuária no País.
Uma dessas admiráveis mulheres é Maria Helena Pereira da Silva Cazzani, a “dona Maria Helena”, do Haras MH, localizado no município de Vassouras/RJ. Aos 91 anos, ela esbanja energia e vitalidade e, além de criar com qualidade o Mangalarga Marchador, em uma propriedade que é referência em gestão e profissionalismo neste segmento, ainda encontra tempo para tocar seu teclado, compor e cantar.
Também posso citar a pecuarista e nelorista Cláudia Tosta Junqueira, que leva adiante a quarta geração de uma família que vive do Agronegócio e que soube diversificar, com conhecimento e muito trabalho, as culturas com as quais opera, investindo em outros segmentos, como a cana de açúcar, obtendo sucesso também nesta área.
Eu poderia falar sobre inúmeras empreendedoras do campo, mas, finalizo citando a Senadora Kátia Abreu, que presidiu a Confederação Nacional da Agricultura, é uma das empreendedoras do campo que, no papel político, independentemente de suas convicções políticas, sempre exerceu papel de liderança, e se mostrou combativa diante de polêmicas como a dos alimentos transgênicos, entre outros temas. Proprietária de uma fazenda de soja no Tocantins, tanto no cargo de Senadora, quanto no de Ministra da Agricultura, nunca deixou de se posicionar em relação às suas opiniões, ainda que sob enorme pressão de pares políticos ou de entidades protetoras do meio ambiente.
O que todas essas mulheres de valor e líderes em suas áreas de atuação tem em comum? Elas se viram a frente de atividades agropecuárias por circunstâncias impostas pela vida, enfrentaram e venceram desafios que pareciam impossíveis aos olhos de muitos e são exemplo de competência e dedicação ao agronegócio.
*Fernando Tardioli é advogado especializado em Agronegócio e Recuperação Judicial