Artigo - Reflexos da greve dos caminhoneiros no Agronegócio


A greve dos caminhoneiros terminou há duas semanas e durou quase dez dias. Com a volta do abastecimento de combustível e as gôndolas dos supermercados cheias novamente, os consumidores podem não ter muita ideia do duro golpe sofrido pelo produtor rural com esse movimento que, por mais justo que possa ser – e, aqui, não vou defender ou criticar os motivos que levaram a categoria à greve – prejudicou grandemente o setor.

O grande produtor rural perdeu ao ter seus produtos parados no caminho dos portos, sem poder embarcar para o exterior. Suco de laranja, café e soja, entre outras commodities, tiveram baixa nas exportações – e o Brasil teve a sua credibilidade arranhada como exportador.

Nas granjas, o que se viu foram cenas de filme de terror: aves se mutilando pelo canibalismo, por falta de ração. Milhares delas morreram de fome, sem que o produtor nada pudesse fazer, além de enterrá-las. O mesmo se deu nos pastos, com gado passando fome, produção de leite interrompida e carne apodrecendo em caminhões parados nas estradas.

Na falta de ferrovias e hidrovias para transporte de produtos pesados, o país concretizou a teoria de que é totalmente dependente do transporte por rodovias e que esse cenário não tem qualquer possibilidade de mudança a curto ou médio prazos. Além das grandes perdas de alimentos, que se estragaram por não ser entregues em seus destinos finais, para a venda no varejo, o prejuízo do produtor rural deu-se de ponta a ponta, na cadeia de produção. O pequeno produtor viu o sacrifício de meses de trabalho jogado fora, literalmente, com sua colheita apodrecendo, sem poder ser transportada.

O governo brasileiro estima que o Agronegócio responda por mais de um quinto do PIB – Produto Interno Bruto brasileiro. Este é o setor que garante o superávit comercial do país, com exportações, em 2017, na casa dos U$S 96 bilhões. Sendo a mola propulsora da economia brasileira, o Agronegócio merece um apoio especial não só do governo, mas, também da sociedade, como um todo. Valorizar o produtor rural e tudo o que ele simboliza para o País é garantir a própria subsistência. Portanto, cabe aos governantes ter um olhar mais sensível  ao setor.

*Fernando Tardioli é advogado especializado em Agronegócio e Recuperação Judicial