Artigo - Por que o agronegócio segue crescendo mesmo em meio à pior crise já enfrentada pelo país?


No dia 12 de julho, foram divulgados os números do estudo sobre Financiamento Agropecuário da Safra 2017/2018, realizado pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ficou comprovado que, produtores e cooperativas contrataram 80% do crédito oficial de R$ 188,4 bilhões disponibilizados para a safra 2017/2018. O montante representa um aumento de 13% no total aplicado na safra 2016/2017. Médios e grandes agricultores aumentaram os investimentos em 31% em comparação à safra 2016/2017, alcançando R$ 32,1 bilhões em financiamentos.

Os brasileiros ainda estão tentando sobreviver à pior crise econômica já enfrentada pelo país – que afetou todos os setores da economia e deixou como saldo, um dos mais tristes, aliás, um alto índice de desemprego. Por isso, ver que há investimentos vultosos no agronegócio parece controverso: por que este setor segue crescendo mesmo num contexto tão desfavorável?

É possível afirmar que a única coisa que os agricultores esperam cair do céu é chuva! No mais, apesar da crise, seguem trabalhando: as atividades agropecuárias vêm se modernizando a cada dia. A tecnologia, literalmente, migrou para o campo – e permitiu melhorar a safra em todos os sentidos, especialmente, em produtividade.

Outra saída foi seguir apostando nas exportações. Em 2017, segundo o Cepea (Centro de Estudos e Pesquisas em Economia Avançada) da Escola Luiz de Queiróz (Esalq), o agronegócio brasileiro exportou um volume recorde, com faturamento 12% maior, fechando em US$ 96 bilhões. Neste ano, de acordo com a APEX-Brasil, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, de janeiro a maio de 2018, o agronegócio respondeu por 43,1% do total de exportações brasileiras – um volume 3,8% maior em comparação com os mesmos meses do ano passado. Num comparativo com os 12 últimos meses, o incremento chega a quase 12%.

O agronegócio brasileiro é uma potência que transformou o país no quarto maior produtor de alimentos. No ano passado, segurou a economia com uma safra de 242 milhões de toneladas. Representa quase um quarto do PIB do Brasil.

E pensar que poderia estar ainda mais forte ... Os agricultores ainda padecem com a falta de políticas adequadas que facilitem o acesso ao seguro rural e ao crédito; com o alto custo de produção, incluindo as dificuldades para armazenar e escoar a safra; com a burocratização de processos e, claro, com o peso dos impostos cobrados. São dificuldades que nos fazem crer que o Governo ainda não entendeu a real importância do agronegócio brasileiro. Não se trata só da economia nacional. Mas também da responsabilidade de alimentar boa parte do planeta.

*Fernando Tardioli é advogado especializado em Agronegócio e Recuperação Judicial