Artigo - Saberá o novo governo manter o crescimento e a força do agronegócio brasileiro?


O agronegócio brasileiro foi o primeiro setor a apoiar abertamente o agora presidente eleito Jair Bolsonaro. A adesão maciça à campanha aconteceu assim que ele anunciou sua pré-candidatura ao cargo, no começo do 2015.

Passada a euforia do período eleitoral, que culminou com a vitória do candidato desejado pelo setor, o cenário já apresenta uma mudança: há uma forte preocupação com a equipe que Bolsonaro vem formando. O receio é que este time não seja capaz de entender as demandas do setor e criar políticas que permitam ao agronegócio seguir crescendo.

A questão mais clara – e amplamente divulgada pela mídia – versa sobre a unificação dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, cujos interesses, em vários aspectos, são absolutamente antagônicos. São dois órgãos de imensa relevância com agendas próprias, que requerem o máximo de atenção de quem os conduz.

O Ministério do Meio Ambiente trata de muitas questões que não são ligadas ao agronegócio: energia, mineração e infraestrutura. E mais: o Brasil tem a maior biodiversidade e a maior floresta tropical do mundo. Aqui está 12% da água doce do planeta. Só estas três características já atraem os olhares de toda humanidade para cá: proteger estas riquezas naturais de toda exploração predatória já é, por si só, outra imensa e desafiadora missão do Ministério do Meio Ambiente.  Como conciliar todas estas demandas com o agronegócio – uma potência nacional, de extrema importância para a economia brasileira, que requer atenção crescente e diferenciada?

É sempre bom ressaltar que o Brasil não se afundou ainda nesta crise econômica que o assola em função da força do agronegócio – que representa quase um quarto do PIB do Brasil. O país é o quarto produtor mundial de alimentos e, no ano passado, exportou um volume recorde, com faturamento 12% maior, fechando em US$ 96 bilhões de acordo com dados do Centro de Estudos e Pesquisas em Economia Avançada da Escola Luiz de Queiróz.

Há quatro décadas, o agronegócio brasileiro cresce sem parar. Isto foi possível porque, como enfrenta a concorrência direta do mercado exterior, o setor sabe que vence aquele que investir em tecnologia e em outras práticas que resultem em maior produtividade.

O produtor brasileiro, como se vê, vem fazendo a sua parte. E agora torce para que o novo governo também faça a sua, e não quebre um círculo virtuoso de crescimento que gera emprego, renda e riqueza ao país. A escolha da deputada Tereza Cristina como Ministra da Agricultura - sem qualquer menção de que ela também cuidará da pasta do Meio Ambiente – foi vista com bons olhos pelo setor, e pode ser um primeiro passo nesta direção.

 

*Fernando Tardioli é advogado especializado em Agronegócio e Recuperação Judicial